20.4.09

Primavera


O inverno é tão opressor, tão violento, tão seco, tão morto. As pessoas se entristecem, se encolhem, se resumem a pouco ou nada. Pequenos sorrisos, ou sorriso nenhum. Pequenos gestos, ou ausência total de movimento. O inverno é o sofrimento do mundo exposto aos que quiserem, e também aos que não quiserem ver, nem presenciar. Não existe escolha, quando se menos espera, você está sofrendo junto.


Mas sofrer o inverno é também uma experiência de amadurecimento. A tristeza nos faz crescer, nos faz reconhecer o que é belo, o que faz bem, nos faz ansiar pela alegria, pela felicidade.
A primavera é isso. É o resultado do anseio da natureza, das pessoas, da terra pela alegria.
As flores nascem antes das folhas como se não pudessem esperar a ordem que achava ser a natural da vida. Primeiro folhas, depois flores. Mas depois, eu percebi que as flores são como a infância, chegam primeiro, ansiosas, numa rapidez imatura, desponderada. E se vão, passam num piscar de olhos, deixando as folhas com a melancolia da primavera que passou. A infância, assim como as flores são assim. Um dia estão lá, lindas, formosas, chamando a atenção de todo mundo. No outro dia, as pétalas caem e deixando apenas o verde imaturo das folhas recém nascidas. E as folhas crescem, escurecem, amarelam e caem, para mais um inverno.
Mais um tempo de amadurecimento, mais recolhimento, mais solidão.

Mas sem experimentar a solidão, como é que a gente vai aprender a valorizar as flores, e a infância, não é mesmo?

1 comentários:

Pequena disse...

Acredito que primavera/outono, frio/calor, alegria/tristeza existem para mostrar ao homem o quanto tudo é efêmero, como somos feitos de momentos e impressões, do constante nascer e morrer. Afinal, aprendizado e amadurecimento nada mais são do que vidas e mortes de pensamentos, convicções e sentimentos.
Como diz Amyr Klink "Um homem precisa (...) Conhecer o frio para desfrutar o calor. (...) quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser."