Se no Rio, março traz as águas para fechar o verão, aqui em NY março "tricks you". Foi isso que escutei de um homem no metrô outro dia. Tricks you, no bom português significa "te trapaceia, passa a perna".
O mês de Março aqui é assim. O mês das ilusões. Algumas flores brotam e você pensa que a primavera está próxima.
Alguns dias faz calor e você sai com menos casacos e até comemora, mas bastam algumas horas pro vento te lembrar que áinda é inverno, e que é cedo para comemorar.

E enquanto Março não passa, ficamos com as águas de Março...

Tom Jobim cantando Waters of March
Elis cantando Águas de Março...


Estou apaixonada por um vaso de tulipas que ganhei da Simone.
Elas são rosa quase xoque e parecem tão perfeitas que até esqueci de regá-las pensando que eram de plástico.
Eu me assusto com artificial que dita a perfeição nos dias de hoje, será? Tomara que não. Tomara que seja apenas um delírio instantâneo essa minha absurda idéia de comparar uma beleza natural à perfeição plástica. Talvez seja um resquício cultural, talvez seja porque eu sou filha do país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo e essa idealização pelo perfeito, me força a procurar a perfeição inexistente em qualquer coisa. Me força a comparar uma flor natural que nasce e morre, a uma de plástico que suja e acumula poeira.
Mas apesar de quase ter me esquecido de regá-las, a minha paixão pelas tulipas vai além do aspecto físico, plástico ou natural. O que me encanta é a capacidade que a flor tem de se abrir e fechar para o mundo e o poder de ser sozinha, de ser independente.
A tulipa é uma flor independente. Flor que nasce da terra sem necessidade de arbustros como as rosas e as azaléias. Ela é só flor que nasce direto do chão, assim, crua. E isso me encanta, me fascina.
O que também me fascina é esse dinamismo que ela tem em se abrir, expôr seus segredos e de repente, quando percebe que se expôs demais, ela se resguarda. Ontem, fui dormir e suas pétalas estavam todas abertas. Hoje quando acordei, pareciam novas. Fechadas pro mundo como se tivessem acabado de nascer. Talvez foi o arrependimento de ter passado a noite toda, de um sábado revelando seus segredos para quem quisesse ouvir e ver. Talvez seja só o desejo de se recolher num domingo frio de início de primavera. Domingos frios são para isso.
Talvez seja um protesto pelo esquecimento da dona que a confundiu com um plástico, que a admirou por parecer falsa. Talvez seja apenas uma questão biológica, a escassêz de água da dona displicente que revela a falta completa de independência de uma flor tachada como auto-suficiente. Nem sempre independência é antagônica a morte. Às vezes, muitas vezes, ela é sinônimo!


Arrumei um amigo bebum, ele é o responsável por me apresentar os melhores lugares para se beber em NYC!!
Em mais um tour pelos bares, botecos e britrôs de NY descobri dois lugares super bacanas.
O primeiro, se chama-se Beauty Bar. Olhando por fora, e por dentro também, você tem a sensação de estar num salão de beleza da década de 50. Os drinks são nomeados por tratamentos de beleza e penteados. Atrás das cadeiras aqueles secadores de cabelo para hidratação. E no meio do bar, uma mulher faz as unhas das clientes.
É a primeira vez que vou a um bar cujo o agente embelezador não é APENAS o álcool!!
Interessante não!!

Confira o site do Bar...

Depois do Beauty Bar, a gente seguiu pro KGB para tomar cerveja Russa (super forte, como toda e qualquer bebida russa!)
O KGB foi aberto em 1993. É famoso e conhecido por promover saraus literários, encontros com escritores e intelectuais de NY. Nos domingos escritores de ficção lêem trechos de seus livros para um público que bebe uma cervejinha enquanto se diverte com a história. Nas segundas, é a vez dos poetas...
O KGB fica no bairro “East Village”, numa parte do bairro que há anos atrás era residência de uma comunidade ucraniana. Então, aos domingos, na época da guerra fria, um grupo de ucranianos fundou naquele lugar um clube de socialistas. O edifício obscuro de tijolos vermelhos era o lugar secreto para encontros proibidos no país berço do capitalismo. No segundo andar do prédio estava a sala secreta que não tinha pôsters de heróis socialistas, nem bandeiras da união soviética por medo de serem descobertos.
Em 1980, os donos do prédio venderam o estabelecimento para uma galeria de Artes, mas um senhor de uns 80 anos, ainda mantive um pequeno bar (o salão secreto onde eram realizados os encontros). Porém, o velhinho dono do bar, ficou cada vez mais velho com o passar do tempo, e não pode continuar com o bar. Nos anos 90, o dono da galeria foi quase a falência, numa dessas épocas de crise financeira em que todas as galerias de artes sumiram do East Village.
A galeria foi então transformada em teatro (sonho do dono da galeria). E o teatro que no início não dava dinheiro, começou a ter um movimento. Foi então, que o dono da galeria, neto de ucranianos, e apaixonado pelo prédio, resolveu reabrir o bar, onde bebeu pela primeira vez (acompanhado pelo pai) um shot de vodka quando ainda era criança!
Foi então que veio a idéia de nomear o Bar como KGB, excelente nome para o antigo clube socialista. Mas é claro, que o governo americano não permitiu o registro de um estabelecimento com esse nome. Nem KGB, nem CIA, nem FBI. Não no estado de NY. O dono então ligou novamente para o departamento de registros perguntando se ao invés de KGB poderia nomear o bar como Kraine Gallery Bar, e uma funcionária do departamento disso. "Esse nome o senhor pode!". Foi assim que surgiu o KGB. As paredes do salão ainda são vermelhas como na época do clube. O bar ainda é o mesmo. A única diferença é que agora inúmeros pôsters de Lênin e seus companheiros, pinturas e fotos do antigo império soviético enfeitam o salão.
Nada é mais tão proibido... a não ser o nome... O dono se tornou escritor arrumou um sócio também escritor, e hoje eles promovem esses saraus onde escritores lêem seus trabalhos sem cobrar nada. Mas recebem em troca aplausos e algumas cervejinhas...

Visite o site do KGB



Nas minhas andanças acabei encontrando um bairro árabe aqui no Brooklyn. Os árabes são pessoas sorridentes e comunicativas. Não houve um único momento em que eu conseguisse ficam sozinha, na minha, sem retribuir sorrisos, olhares ou acenos.










Eu caminhei o tempo todo com a câmera pendurada no pescoço e muitos homens me pediram para fotografá-los. Nunca mulheres de véus. Não sei se é timidez, ou a própria cultura muçulmana que não permite que as mulheres fiquem confortáveis na frente de câmeras. O engraçado é que mesmo não se permitindo ser fotografadas elas também se aproximavam para perguntar se eu era fotógrafa. Teve uma que inclusive me pediu para fotografar o filho dela, enquanto ele comia batatas no Mc Donald.


Almocei Humus com pão árabe (legítimo) e até comprei umas comidas e temperos diferentes num mercado palestino. Comi um doce com nozes delicioso e fiquei amiga do dono de uma salão de beleza com sala privada para mulheres com véu. Percebendo que um de seus funcionários estava tentando me "cantar", ele se aproximou e me disse "me tenha como seu pai... Tome cuidado com esse sujeito". Achei fofo. Acabei fotografando, ele, o funcionário e mais um amigo.

Depois dali, andei mais dez avenidas e cheguei num de judeus ortodoxos. Aqueles que usam tranças, chapéis pretos, e sobretudos compridos usados no verão ou no inverno. As mulheres todas elas, vestiam vestidos pretos, de mangas compridas, abotoados no pescoço, meia-calça da cor da pele, e sapatos baixos. Quase todas elas empurravam carrinhos de bebês. Ninguém sorria, eu me senti uma invasora, uma extranha, indesejada. As crianças quando me viam com a câmera penduradas no pescoço cobriam os cachinhos com gorros num movimento sincronizado como se tivessem sido ensinadas na escola.

Eu me senti mal, e fiquei com pena das crianças. Como devem ter turistas, curiosos, e malucos que fotografam os meninos como se fossem bichos de zoológico. Não consegui fazer boas fotos. Não me senti à vontade caminhando pelo bairro que lhe faz sentir na terra prometida. Talvez seja um passado de tantas perseguições e sofrimentos que fez desse grupo de judeus, caramujo no casulo. Estranho e triste porque eu queria comer comida judia, conversar com pessoas e quem sabe, se eles deixasse... fotografar, por que não?


Foi o melhor que consegui, fotos tiradas de cima da plataforma do metrô. Ainda bem que não são subterrâneas.












NY se enfeitou de verde, até o Empire Estate aderiu a moda, só para celebrar o dia de São Patrick, o padroeiro da Irlanda. A cidade está todinha verde e cheia de trevinhos (o símbolo que são Patrick usava como exemplo para esplicar ao povo a Divina trindade). Durante o dia todo, na Quinta avenida, aconteceu um desfile de blocos irlandeses, cada um com sua banda e uniforme, incluindo a famosa saia irlandesa e a flauta irlandesa.

São Patrick, foi capturado e vendido como escravo para a Irlanda quando tinha apenas 16 anos.

Depois de seis anos ele conseguiu fugir e voltar pra casa e entrou pra vida religiosa. Uma das importâncias de São patrick na igreja católica está no ato da confissão. Foi ele quem lutou pela confissão em particular, que antes era feita em grupo na frente de todo mundo (imagina a quantidade de mentiras que o povo não devia inventar).

Muitos imigrantes irlandeses vieram para os Estados Unidos, principalmente no norte do País, assim como no Reino Unido também sofreram muitas discriminações, mas constrúíram uma coloônia de descendentes muito respeitada!

Na Quinta avenida, bem no coração da cidade está a Catedral que homenageia o Santo. Lindíssima, e é por lá que todos os blocos passam celebrando o santo e o dia!

E a lei hoje é comemorar à lá Irlanda!! Ir à um Pub e encher a cara de Wiskey!! Então... vamos lá...





O metrô de NY é onde se percebe o quanto cosmopolita a cidade é. Estou fazendo uma pesquisa e trabalhando nesse tema. Pego o metrô e fotografo e escrevo sobre pessoas.

Outro dia estava na estação de trem quando vi uma mulher com o cabelo muito estilizado! Fiquei na dúvida se podia pedir a ela que tirasse um retrato ou não. Simone estava comigo, e nós conversávamos em português.
- Simone, vou tirar a foto.
- Assim, sem pedir?
O trem chegou. Ela sentou num banco no fundo do vagão, Simone sentou ao lado dela. Continuamos conversando...
- Vou pedir para tirar a foto...
- Mariana, e se ela não gostar?
- Daí não tiro.
- Ah, mas eu to do lado dela, ela pode ficar ofendida...
Foi então que a moça do cabelo estilizado disse em bom português...
- Você quer sentar aqui?
- Eu respondi... Não, na verdade queria tirar uma foto sua.
Começamos a conversar, ela é do Cabo Verde mas mora aqui há 20 anos. Trabalha com uma estilista americana e um brasileiro vendendo roupas desta estilista. Ama o Brasil e a música brasileira. Adora o sotaque do nosso português, e fala a língua sem o mínimo sotaque de Cabo Verde (igualzinho ao de Portugal).
Seu nome é Fantcha. Trocamos telefone, e-mail e figurinhas. Ela prometeu cozinhar comida Cabo Verdiana e eu em troca vou lhe fazer brigadeiros. É fã de Gilberto Gil (já tocou com ele no Cabo Verde), de novela brasileira e brigadeiro. Sonha em um dia fazer show no Brazil...
Está trabalhando no seu segundo disco que pretende lançar em julho aqui em NY!
O metrô é assim mesmo. Para mim, o melhor lugar de NYC!

O bar Nevada Smith é a grande descoberta de NY (pelo menos para nós). Ele é famoso porque transmite os campeonatos de futebol que acontecem pelo mundo. Campeonato carioca, paulista, mineiro, espanhol, italiano, argentino e por aí vai.
O lugar é ideal para ver futebol e torcedores bonitos (argentinos, italianos, espanhois... hahahaha). Quarta-feira, nós fomos ver um jogo do São Paulo na libertadores. Estava tudo tranquilo, o time ganhou, e como não havia mais nenhum jogo a ser transmitido, o telão do bar deu lugar a um karaokê!
A gente estava destraído vendo os outros cantando, quando de repente, um rapaz passou a mão na bolsa de uma amiga e saiu correndo. Demorou um pouco pra gente entender o que tava acontecendo, mas ela estava atenta, e avisou aos seguranças.
A polícia apareceu em menos de 5 minutos. Policiais a paisana. Depois fui descobrir que NY é cheia de policiais a paisana. Eles se fingem até de cegos no metrô para espionar as pessoas. O rapaz foi preso, a bolsa recuperada e nós fomos para casa.
Não foi bem o FBI desta vez, mas a polícia anda me rodeando...



Não sei onde eu tava a cabeça de comemorar a chegada da primaveira um mês antes, aqui no blog.
No domingo de madrugada teve uma tempestade de neve que trouxe de novo o frio do -12C, -10 com sensação térmica de -18C (isso é o que diz o weather.com). O vento era tão forte que eu saí para tirar umas fotos e quase fui carregada...


Dá só uma olhada...