Quando eu era criança, bem pequena, eu dividia o quarto com a minha avó. Antes de dormir, eu e ela ficávamos alguns minutos, eu tenho impressão de que horas, observando a lua da janela. Costumávamos chamar pela lua nas noites em que ela se escondia. "Lua, oh Lua... minha avó cantava". A janela do meu quarto tinha uma grade de alumínio e eu costumava me sentar na grade e contorcer meu corpo e pescoço para alcançar a lua com os olhos. Ainda faço isso. As janelas mudaram e raramente têm grades. E se tem uma coisa que aprendi com minha avó e nunca mais vou esquecer, é a olhar para o céu.
Procurar por estrelas, lua e admirar a chuva.

De tudo que cai do céu: neve, pára-quedas, disco voador, pipa perdida ou sacolas plásticas trazidas pelo vento, de tudo isso eu prefiro a chuva.
Abril é o mês das chuvas aqui no norte dos Estados Unidos. O ditado diz, April shower's bring May flower's. As chuvas de abril trazem as flores de maio. Algumas flores já vieram em abril mesmo, junto com as chuvas, que caem quase todos os dias.
Eu gosto de ouvir o som das gotas de chuva caindo sobre o telhado de vidro do meu quarto e as memórias que chuva traz. Todo mundo tem alguma lembrança de chuva, feliz ou triste. Mas acho que são poucas as lembranças, de estrelas, de nuvens, de lua. Acho que a chuva é mais marcante.
Porque ela, diferente de todo o resto que cai do céu, e também dos que ficam por lá como estrelas e lua, deixa lembranças nos cinco sentidos. O cheiro da chuva na calçada, as gotas caindo na janela como cometas, as imagens das pessoas, árvores, prédios refletidos de ponta a cabeça nas poças de água, o som da chuva no teto de vidro ou no telhado, sentir a chuva molhar os cabelos naquele dia que você saiu para caminhar, e estava sol, mas de repente, do nada caiu aquele pé d'água! Sentir seu corpo todo molhar enquanto você corre procurando abrigo, colocar a língua pra fora e abrir bem a boca para beber e sentir o gosto de "nada" da chuva e depois ir pra casa preocupada com aquela matéria do Fantástico que não sai da sua cabeça e falava sobre as chuvas ácidas no Japão. "Será que depois destas gotinhas, eu vou precisar de um anti-ácido?"

Então quais são as suas lembranças de chuva?

Para ouvir... Raindrops falling on my head...

Para ouvir e ver... O som da chuva caindo no telhado de vidro do meu quarto...

Para ver...

O filme Regen (chuva em Holandês, lindo de 1929)

Parte 1

Parte 2

2 comentários:

Pequena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pequena disse...

Vou te dizer que tenho lembranças de estrelas e lua sim, mais marcantes que de chuva. Não me esqueço de uma lua cheia quando fui a Guarapari para o EREAD. Nunca mais vi igual! Enorme! Amarela! Linda! A impressão que se tinha era que esticasse a mão ia dar para tocá-la... o ônibus inteiro parou e ficou admirado! MUITO grande!
O que me fez pensar no ditado "redonda como um tamanco". Mas desde quando um tamanco é redondo? Nunca entendi isso... rs
O nascer da lua da minha época carioca era um espetáculo à parte. Todos os dias eu me sentava na varanda pra admirar. E ficava triste qd era lua nova...
O céu estrelado mais lindo que vi foi voltando de Ouro Preto. Passei a madrugada inteira admirando, acordada, sozinha, num ônibus mergulhado no breu e ronco do meu vizinho de poltrona... Me senti verdadeiramente numa espaçonave voando pelo espaço de tão perto que as estrelas pareciam estar. Mas tirando pelo ronco do meu vizinho, a minha "nave" era bem velha e barulhenta.... rs
Mas concordo, não tem nada melhor que um banho de chuva. "O chuva, eu peço que caia devagar, só molhe esse povo de alegria, para nunca mais chorar..."

Fiquei pensando: como será esse seu telhado numa chuva de granizo hein? Jesus!