9.2.09

Dia Virtual

Resolvi me matricular em alguns cursos sugeridos por professores daqui de NY.

Ontem a tarde procurei nos sites dos cursos os horários e conteúdos de cada um. Anotei os endereços na agenda e fui dormir pensando que ia passar o dia conhecendo gente nova (os atendentes e recepcionistas dos cursos).

Então, hoje acordei cedo, e pé na estrada. Fui ao primeiro endereço. Porta fechada. Toquei o interfone. Ninguém atendeu. Toquei de novo. O porteiro do prédio se aproximou e disse: "Olhe na internet, lá tem os horários, preço etc".

Isso eu já sabia. Pensei.

Não desanimei, porque afinal ainda havia dois endereços.
O segundo curso, dava num mausoléu idêntico a esses filmes policiais de NY, em que uma estudante entra por acaso num prédio abandonado e testemunha um crime. Pois é. Mesmo com essa sensação, entrei no mausoléu. Nenhum porteiro. Porta da escada de serviço trancada. Um cartaz com os horários, preços e o site do curso estavam colados no poste da frente do edifício. Chamei o elevador. O prédio era tão silencioso que eu pude ouvir com clareza o barulho do elevador. Subi. Terceiro andar. O elevador parece emperrado. Empurro a porta e penso: Eu to sozinha nesse prédio. (Ou será que o assassino do filme policial também está aqui...). Penso que talvez só o Bruce Willys possa me salvar.

O elevador começa a subir. Terceiro andar. Corredor vazio. Nem vento. Bato na porta. Toco campanhia. Nem sinal. Decido ir embora. Melhor não dar mais chance pro azar.

Depois de tantas emoções eu resolvi almoçar. Essa foi a hora mais bacana do dia. Não pelo almoço (paguei caro por uma pizza nem tão boa). Mas pelas boas ações em cadeia que algumas pessoas me proporcionaram. Primeiro, meu cartão do metrô emperrou. Passei duas vezes. E na terceira a roleta alegou que ele tinha sido usado recentemente. (o sistema de metrô permite que você compre um cartão por mês, e pode usá-lo quantas vezes quiser, dentro de um intervalo de 20 minutos). Um rapaz que esatva atrás de mim, e que tinha me cedido o lugar na fila da entrada do metrô, passou o seu cartão no meu lugar, e me disse. "Vai".

Eu olhei para ele e perguntei. "E você".
E ele disse. "Não se preocupe".
Nossa que rapaz cortês, tomara que ele vá na minha direção! Pensei.

Ele não foi. e eu segui em frente.

Depois, na mesma estação, lá vou eu andando para pegar um trem quando escuto um homem me gritando... Era um senhor que havia achado meu cachecol. Deixei cair em algum lugar da estação.

Para completar. Depois de almoçar e pagar caro por uma pizza horrível, esqueci uma caixa de sapatos na pizzaria. Quando estava perto do metrô, resmungando e falando mal do restaurante (apontado como a primeira pizzaria de NY). Eis que me aparece o garçon correndo mais do que cavalo de corrida e gritando... Lady, Lady...

Nas mãos a caixa de sapatos.

Comecei a gostar do restaurante. A pizza não é boa, mas o lugar tem gente legal!

Então até o presente momento as relações pessoais estavam ganhando de 3x2 das relações virtuais. Até o presente momento, porque ainda faltava o terceiro curso.

O terceiro e último endereço. Lá esta eu, procurando o número 87 na rua Laffayete. Demorei mas achei, o escritório é em cima do prédio dos bombeiros.

Toquei o interfone. Um homem atende.

Pegunto sobre o curso. Ele diz que o site contém todas as informações. Digo que tenho uma dúvida. Ela me pede para falar sobre o interfone.

Fiquei intimidada e me calei. O homem desligou o fone.

Fui embora frustada.

No final das contas, a competição deu empate.
Voltei para casa, liguei para um dos cursos e mandei e-mail pros outros.
Todos foram tão simpáticos como os rapazes do metrô e o garçon do restaurante! Estranho como estamos cada vez mais caminhando para uma vida virtual, sem toques. Aqui em NY o contato entre as pessoas tende a ser menor, primeiro porque se trata de uma metrópole, e segundo porque as pessoas já são naturalmente desconfiadas de ações terroristas e personagens suspeitos. Há sempre um cheiro de desconfiança no ar, e uma mecanização nas relações humanas. Obrigado, com licença, e só. O bom é que ainda se pode ter fé nas reações espontâneas...

1 comentários:

Pequena disse...

Já estava esperando vc dizer no final da história que teve que apelar pra São Longuinho, mas dessa vez foi salva por gentis rapazes hein!! rs

É... mundo completamente virtual e desconfiado. Pra onde estamos indo?