Hoje eu assisti a dois filmes. Um na aula e outro numa sessão de cinema na New School.
Ambos falavam sobre assuntos muito distintos, mas que de certa forma se encontram num ponto. O descaso do ser humano com a vida alheia e com a própria vida.
O primeiro se chama Let's get lost. Em português tem o título: Últimos dias, ele retrata a vida do jazzman Chet Baker.
O documentário mostra as duas faces do músico, que aos 20 e poucos anos foi consagrado como um dos melhores trompetistas do mundo, mas que ao final de sua carreira aparece com a pele toda carcomida e sem os dentes.
Chet, ao que parece, se jogou da janela de um hotel em Amsterdã, em uma sexta-feira 13 de 1988. A polícia encontrou seu corpo e um tropete jogado na rua.
Chet que tocou Retrato em Branco e Preto de Jobim, foi amado e odiado por mesmas mulheres. Era conhecido pelo seu encatador poder de sedução, e por sua genialidade ao trocar o instrumento. Não ensaiva, porque não precisava e tocava divinamente.
O que me surpreendeu neste filme é justamente a capacidade humana da auto-destruição. Como Chet um homem capaz de criar músicas tão lindas, era também capaz de ter filhos e nunca visitá-los? De amar e abandonar esposa e família, como se joga fora uma roupa rasgada? De se drogar exageradamente e não se importar com as consequências?
Esse tema me fascina e me amedronta. Eu acredito que cada um de nós, até as pessoas mais de bem com a vida que eu conheço, tem um certo resquício de auto-destruição. Fumar, beber demais, comer depressa, não dormir direito, tudo isso, que todo mundo faz ou já fez algum dia, não deixa de ser também auto-destrutivo. É fascinante essa capacidade do ser humano de não se amar, e achar isso normal. De dar prioridade à coisas que ele julga mais importante do que ele mesmo.

O outro filme é também um documentário, indicado ao Oscar este ano. No filme nós acompanhamos a vida de Kimberly Roberts e seu marido, moradores de New Orleans, que sobrevieram ao furação Katrina. Ela filma horas antes, e meses depois como o Katrina mudou a sua vida, o que aconteceu com seus vizinhos, amigos, parentes e cachorro.
É um filme chocante, porque expõem claramente o descaso do presidente, do governo local, das pessoas em geral com a população da Lousiana. Crianças, idosos, famílias morreram por falta de resgate, por falta de cuidado, porque não tinha transporte para deixar suas casas horas antes da chegada do furacão. E que só puderam contar e questionar a Deus por tudo que aconteceu.
Certo momento, Kimberly encontra outra sobrevivente que reclama sobre a atitude do governo Bush em relação a tragédia:

- Isso não poderia acontecer aqui na América (Estados Unidos)!
- Eu acreditava que viva no melhor país do mundo. Com o melhor governo do mundo, mas se você não tem dinheiro, o governo não existe para você.

Essas e outras evidências comprovam o que muitos americanos ainda não acreditam. A "América" (Estados Unidos) não é tão poderosa e perfeita, quanto nos é mostrada.
A conclusão que chego com isso tudo, principalmente vivendo aqui, é que eles são bons mesmo (melhores do que qualquer outro país) em vender. Vender a própria imagem! E que alguns sérios problemas sociais que nós (terceiro mundo) vivemos, eles também vivem aqui. Numa lógica e proporção diferente.

Mas talvez esse tamanho descaso com a dor e o problema do próximo, seja somente mais um reflexo da falta de amor próprio do ser humano. Talvez seja bem uma questão de seguir a risca um dos dez mandamentos cristãos: Amar ao próximo como a ti mesmo.

Para ver Chet tocando, clique aqui.

Pouco antes do suicídio: Veja como Chet está acabado.

Para conhecer um pouco sobre o filme Trouble of Water, clique aqui.

2 comentários:

Anônimo disse...

Mari,

achei super bacana essa ligacao entre as duas historias. Entre a vontade inesplicave do ser humano se auto-destruir, e ser infeliz com as felicidades que a vida te proporciona. E do outro lado, a necessidade de mundo ter amor ao proximo. Gostei de aprender sobre esse Chet Baker. valeu!

Pequena disse...

Primeiro tudo certas pessoas tem que aprender a amar a si mesmo como é, e não pelo o que tem.
Aí começa o próximo passo: fazer o mesmo com os outros.
Se vc não liga de se autodestruir, que importância dará a vida alheia??