Já postei sobre o Flea Market anteriormente...
É um dos lugares que eu gosto muito daqui de NY. Um museu numa garagem, com relíqueas que tiveram os mais variados tipos de donos: Figurinhas antigas, revistas em quadrinho, vestidos de costureiros famosos, lenços, capacetes de guerra, máquinas fotográficas antigas, talheres iranianos, louças chinesas e fotografias.
São peças de museu que um dia pertenceram ao cotidiano de alguém, em algum canto do mundo. Para mim, é muito mais interessante que o MoMa, o Metropolitan, ou o Whitney Museum porque é a história de um povo contada por pequenos objetos da vida cotidiana.
Eu tenho um carinho especial pelas roupas e lenços, mas também gosto das fotografias.

Segundo o NY Times, só nos Estados Unidos, são tiradas 300 fotografias por segundo. 300 (sem contar as fotos 3x4)! Fotos de aniversário, fotos turísticas, fotos profissionais, fotos. Frações de segundos que registram um tempo que não volta, que nunca mais se repete.
Eu tenho uma relação conturbada com fotografias. Gosto de tirar, gosto de posar, mas às vezes tenho medo de rever. A foto é a paralisação do tempo, o congelamento de um momento que provoca sensações adversas com o passar do tempo: Alegria, saudades, arrependimento. As sensações que mudam e o medo dessa mudança que me provoca certa aversão a fotos.

Fotografias de mercado de pulgas me instigam. Mais do que fotos profissionais, bem mais. Eu gosto de foto de gente comum, de festa de criança, de album de casamento, de comemorações como o fim da guerra de 45, de um verão na praia pela primeira vez. Tudo isso, pode ser encontrado no Flea Market, e o que me intriga, o que provoca a minha emoção é saber o que aquela foto está fazendo alí...
Onde está aquela criança? E o casamento, acabou? O que aconteceu com o soldado? Porque as lembranças do verão agora são vendidas para desconhecidos?
O que também me provoca sensações, é imaginar o que acontecia com aquelas pessoas, minutos antes do fotógrafo aparecer com a câmera e bater o retrato. Será que aquela cara de felicidade é puro fingimento? O que será que a menina que encolhe a fotografia na foto pensava minutos antes da pose?
Talvez seja este outro motivo do qual me faz não gostar de ver fotografias. O fingimento das fotos posadas. Porque quem posa pra foto (eu poso pra foto) finge. Finge uma postura que não tem, finge um sorriso amarelo para esconder as imperfeições dos dentes, finge. E a foto captura o fingimento.
Então, quando eu vejo alguma foto, principalmente fotos de mercado de pulgas, eu procuro a verdade. O que é real por trás de tanta pose, tantos sorrisos. Eu procuro a verdade antes do fotógrafo aparecer. Mas eu nunca encontro, por isso ainda ando procurando...

2 comentários:

Pequena disse...

Penso como vc: o que faz uma pessoa vender (ou doar que seja) um capítulo da sua vida, uma parte das suas lembranças a um estranho?
Será que traz sentimentos tão dolorosos assim?
O que há por trás disso tudo?

Pinguela Filmes disse...

Não sei, talvez seja querer esquecer... eu já tive vontade de sumir com muitas fotos, você não>
Só não joguei fora porque às vezes é bom lembrar de coisas ruins pra não cairmos na tentação de repetir...
bjs